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Azerbeijão, um país na Marginal.

Por mais incrível que pareça, falar de Baku parece que estamos a falar de Esposende.
 
Se em Esposende muitos se queixam da omni-presença da Marginal, o que dizer de Baku onde não é apenas uma cidade, distrito ou região que vive a Marginal mas sim um país inteiro.
 
Toda a Marginal está pensada para ser o postal bonito do país e mesmo com a baixa do petróleo continuam a crescer os hotéis de aço e vidro e os pavilhões do governo que irão albergar mais espaços públicos como museus e pavilhões temáticos.
 
Poucos são as atrações turísticas publicitadas que não se encontrem na Marginal de Baku, desde as torres em forma de chama que se iluminam à noite até ao pavilhão onde foi realizada a final do Eurovisão da canção, passando pelo Museu das Carpetes e pela recriação de Veneza com gôndolas e pontes ao estilo veneziano e o recinto de BMX.
 
 As grande exceções são a Cidade Velha, que nos invoca os tempos da Rota da Seda e os fenómenos da "Terra Ardente" que surgem devido à facilidade de extração de petróleo e dos seus derivados.
 
Para além da Marginal também as ruas paralelas à mesma sofreram grandes restauros e enriquecimento com prédios em estilo neo-clássico a florescerem e os antigos prédios a sofrerem renovação, criando uma aura de Nice nesta zona da cidade, sendo natural que a corrida de F1, o grande evento nacional, decorra entre a Marginal  e estas ruas. 
 
Andando nas ruas do circuito é constatável um excelente piso de alcatrão e por vezes encontramos os famosos corretores de trajetória nas curvas mais apertadas em plena rua e impressionante olhar para a curva da Torre Maiden, o local mais apertado de todo o circuito mundial de F1, onde um piso de alcatrão temporário é colocado para preservar a calçada original. Mas não apenas da F1 o Azerbeijão quer fazer sustentar o seu turismo desportivo.
 
As modernas infraestruturas que se encontram na periferia permitem que Baku se projete para maiores eventos do que o da F1. Depois de ter albergado os primeiros Jogos Europeus, Baku será uma das cidades que vai albergar o Euro-2020 e têm consistentemente apresentado a sua candidatura a uns Jogos Olímpicos de Verão, estando o governo apostado em tornar Baku numa referência do turismo do Cáspio, atendendo ao previsível crescimento económico do vizinho Irão tudo indica que isso será uma aposta ganha.
 
Por vezes o modernismo chega a ser exagerado, e no moderno e arquitetónico Aeroporto de Baku é quase impossível encontrar um souvenir local no meio das lojas de relógios suiços ou de ourivesaria francesa.
 
Mas a Marginal não se tornou este postal ilustrado nos tempos mais recentes.
 
O Azerbeijão, e Baku em especial, foi o local onde nasceu a indústria petrolífera e a sua extração ganhou foros de indústria credível e onde nasceram os primeiros impérios e com isso existe uma abundância de recursos que está espelhada nos edifícios do séc. XIII. Aqui foi onde nasceu a BP, onde os irmão Nobel fizeram parte da fortuna que financiou os prémios Nobel e onde Calouste Gulbenkian fez a sua fortuna.
 
Esta facilidade de acesso ao petróleo e aos seus derivados ainda hoje marcam a paisagem circundante, já que a apenas 20 km's do centro da cidade os poços de petróleo e as máquinas de extração são o panorama geral e é impossível não sentir o cheiro a gás que existe no ar sem estarmos perto de uma das zonas de extração.
 
 Se mais evidencias fossem precisas, os fenómenos da montanha ardente seriam  a prova final dos imensos recursos que existem nestas paragens. O gás está tão perto do solo que se inflama em contacto com o oxigénio quando libertado através de fendas e arde continuamente num processo que quase chega a ser saído de um filme de ficção científica já que o solo se incendeia por si mesmo.
 
 Mas nem tudo é turístico em Baku.  
   
 Todas estas extravagâncias têm a iluminação cortada à meia-noite e a poucos quilómetros da cidade é quase impossível ter iluminação publica e estradas em boas condições.
 
 E se nem tudo é turístico em Baku, muito menos no resto do país.
 
 O Azerbeijão é um dos muitos países da ex-União Soviética que vive na sombra mediática da Rússia e que através de acordos e concessões a diversos interesses mantêm uma acalmia de pressões externas que noutras latitudes seria altamente reprovada. O mesmo partido têm ganho as eleições desde 1992, sempre com 85% de votos, e o Presidente eleito têm quase poderes absolutos sobre o resto da vida política Azeri e a liberdade de expressão é como o forte vento que sopra do Cáspio, passa de vez em quando e desaparece.
 
Andando nestas ruas e nos seus bons restaurantes é impossível perceber que estou num país que há 8 meses esteve num conflito armado numa das suas regiões/enclaves, Nagorno, e que vive em estado de conflito com a Arménia desde 1992.
 
Nagorno é um dos mais estranhos enclaves na Europa e no Mundo, já que é uma região de maioria arménia mas está incluído no território do Azerbeijão mas têm uma capital própria, uma bandeira própria, inspirada na da Arménia, e um passaporte próprio. As autoridades Azeris não permitem que se aceda a esta região pelo território Azeri, sendo apenas visitável pelo lado  arménio.
 
Foi-lhes prometido que seriam Arménia em 1992 e mesmo após o conflito de 1992 ficaram no Azerbeijão nesta situação quase insustentável.
 
Ainda me surpreendo como me surpreendo com o caos geo-político deixado por Gorbatchov.
 
Esta fronteira é uma das mais selváticas do Mundo, sendo conhecida como o Inferno dos atiradores-furtivos onde todos os meses se registam mortes de soldados em ambos os lados. Separadas por 2 muros e umas centenas de metros de terreno limpo, demorar mais do que alguns segundos com a capacete fora da muralha é um passaporte certo para ser alvejado pelo lado  contrário.
 
Nada disto é agradável para colocar nos postais mas o memorial dos mortos do conflito de 1992 situa-se nos dos locais mais visitados pelos habitantes da capital.
 
Sendo este um país que requer visto aos seus visitantes é incrível perceber que as respostas afirmativas à questão se já fomos presos, ou se consumimos droga, ou se trazemos pornografia infantil não são motivos para revogar o pedido mas afirmar que já se visitou a Arménia ou que se quer trazer produtos arménios para o país é um "Não" rotundo.
 
No fundo, o Azerbeijão fará o seu caminho montando nas suas riquezas naturais, tornando-se um postal aparentemente cada vez mais bonito para quem o queira visitar.
  

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