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Beatificação de João Paulo II ?!?

Como acredito no secularismo e numestado ateu não consigo ficar indiferente à colagem de João paulo II a um "anti-comunismo" primário e que nada mais traz que uma clivagem de mentes baseada em estereótipos.

Foi um papa que não fez progressos no aborto, na inserção da mulher na Igreja, na recusa do uso do preservativo em países em vias de desenvolvimento e o subsequente combate à Sida, teve intervenções políticas sempre dominadas por uma visão pró-americana/direita moderada, e era confesso adepto da mortificação e do ascetismo.

Beatificação ?!?!

Comentários

  1. Manuel, respeito todas as opiniões, mas noto que para poderem gerar um debate sério é preciso que sejam fundamentadas e não se fundem em ignorância. Nenhum Papa defende o aborto porque isso seria contranatura com os ensinamentos da Igreja que defende o princípio do direito inalienável à vida. Quanto ao preservativo, ninguém mais do que a Igreja tem feito pelo combate a esse flagelo, sobretudo no continente africano. Para muitos essa seria a solução fácil. Mas tal não resolve o problema, como a poligamia e outros comportamentos de risco que se continuam a praticar. Isso vai com educação e comportamentos responsáveis, mas parece que essa outra vertente da solução não dá muito jeito a debater.
    Quanto à questão da guerra, outra leitura enviesada. Ninguém mais do que João Paulo II se empenhou para que os EUA não invadissem o Iraque pela 2ª vez. Disso são exemplos o envio de emissário especial a Washington para falar com George Bush II, ou a deslocação de Tarik Aziz ao Vaticano.
    Para alguém que viveu nos jugos da ditadura nazi e estalinista, ser adepto dos conflitos bélicos parece-me masoquista. E, felizmente, que não foi o caso de JP II.

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  2. Caro Francisco, o facto de a Igreja ter os seus dogmas e a sua matriz de pensamento não significa que os dogmas e a sua matriz de pensamento (como os seus mandatários) não sejam passíveis de serem questionados e colocados em causa.
    A não utilização da "solução fácil" custou e custa ,ainda hoje, vidas humanas. Isso não é passível de ser discutido e ser alvo de enquadramento num código de conduta de uma organização seja ela qual for. Se fosse uma organização islamica,algures na Arábia Saudita, o que se diria?
    Quanto à sua vertente política a sua constante intromissão e "guerrilha" contra o bloco de Leste sempre foi um dos seus marcos, falando muitas vezes que o homem material/social não poderia influencir o homem religioso, mas onde estava a mesma vertente para o capitalismo desenfreado?

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  3. Amigo Manuel, sobre a utilização da "solução fácil" creio que o Papa Bento XVI foi pertinente nessa análise em entrevista depois publicada em livro "Luz do Mundo". Ou seja, num cenário sem retorno, em que nenhum meio alternativo seja possível, antes usar o preservativo do que não usá-lo, com consequências graves. No entanto, importa questionar porque chegamos ao cenário sem retorno. E é nisso que falham aqueles que criticam a Igreja pela questão do preservativo, pois não aceitam discutir o tema abertamente achando que qualquer outro método proposto é ultrapassado e portanto não há legitimidade da Igreja para falar desta matéria.
    Ainda ontem ouvia Marcelo Rebelo de Sousa falar na questão da taxa de mães adolescentes, em que Portugal continua a ser um dos países com taxa mais elevada na Europa. Em tempos em que os preservativos são disponibilizados em consultas de planeamento familiar ou o aborto já não é proibido por lei, dão que pensar estes números.
    Relativamente à questão política, não quero crer que tenhas achado mal o empenho pessoal de JP II na queda do bloco soviético, um dos regimes mais sanguinários e persecutórios que a civilização ocidental conheceu no último século. Ninguém vislumbrou qualquer mérito nesse regime. E não acho que JP II só olhasse para um dos lados em questão. Recordo a sua visita a Cuba, em que criticou o embargo americano, dizendo que não era por essa via hostil que as coisas se resolviam. E houve críticas, que podemos ver em muitos dos seus escritos, sobre a falta de ordem do capitalismo desenfreado, que põe os interesses do lucro acima da pessoa humana.

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